Com “Quero Querer”, Lica Cecato comemora quatro décadas na música com show exclusivo no teatro Sérgio Porto no Rio de Janeiro.
Gravado com o arranjador e multi-instrumentista Paulo Calasans, a cantora e compositora recebe em três canções a italiana Mariella Nava, Zeca Baleiro e Zélia Duncan.
QUERO QUERER, LICA CECATO
O marco para a contagem dos 40 anos de carreira comemorados agora no álbum “Quero Querer” é pragmático. O momento, na Itália, em 1978, no qual a música se transformou no ganha-pão daquela jovem paulistana que chegara à terra de seus ancestrais a fim de estudar desenho.
Quatro décadas depois, uma dezena de CDs lançados, shows pelo mundo afora e encontros nos estúdios e nos palcos com um verdadeiro quem é quem da música contemporânea, Lica celebra esse trajeto de forma direta e orgânica. “Quero querer” reúne parte do que ela criou nos últimos anos e ainda a regravação de uma de suas primeiras composições, “Amor adolescente”, samba-canção escrito na adolescência e desde então sempre pedido pelos instrumentistas com quem tem trabalhado. Tudo registrado no aconchegante estúdio que ela mantém no Rio, ao lado de um companheiro de tantas viagens musicais, o homem-banda Paulo Calasans.
Em três canções, convidados especiais se juntam para duetos. Zeca Baleiro, que Lica conheceu abrindo um concerto dele na Città della Musica, em Roma, está na faixa-título e de abertura do disco. Já “Voglio volere” (a versão em italiano de “Quero querer” que volta no fim do CD como bônus) conta com a voz de Mariella Nava, cantora e compositora conhecida no Brasil pelo sucesso “Per amore”. Enquanto Zélia Duncan participa de “Choro sentido”.
Ainda sobre Calasans, que também assina arranjos, produção musical e gravação (e é o autor da sinuosa e cheia de bossa melodia de “Até você”), o tecladista está, de alguma forma, ligado à história da artista antes mesmo de ambos terem noção disso. Certo dia, jogando conversa dentro, descobriram que seus pais, então crianças e prodígios, tinham tocado juntos no orquestra do coreto dirigido em Jundiaí pelo avô paterno de Lica, Rizzieri Ceccato.
Se a música sempre esteve presente na vida dessa filha de um saxofonista e neta de um maestro, o retrato completo da artista revela uma mulher de perfil renascentista, igualmente atuante e talentosa como designer, escritora, fotógrafa e artista plástica. Não por acaso, como que fechando um ciclo, a capa de “Quero querer” utiliza o desenho-pintura “Danjoo”, de uma recente série de trabalhos nos quais ela usa a técnica japonesa Katagami.
Mas, essa profunda imersão na cultura do Japão é outra das muitas histórias de Lica Cecato. Agora, a hora é das 12 canções de “Quero querer” – e ainda a faixa-bônus, “Voglio volere”, versão em italiano da que abre e dá título ao disco -, num leque que se abre em samba, choro, balada, funk-jazz, bossa, toada e rumba. Diversidade embalada pelo sotaque musical visceralmente brasileiro dessa cidadã do mundo. Bossa do século XXI.
Outras histórias
Recém-estabelecida na Itália como cantora e violonista, Lica Cecato viveu a proeza de abrir um concerto do lendário jazzman Sun Ra (EUA, 1914-1993), então liderando sua Arkestra, o revolucionário grupo que fundiu jazz, psicodelismo e world music. Este foi um dos muitos encontros musicais de Lica nessas quatro décadas, incluindo também participações em eventos e festivais ao lado do grupo de jazz de vanguarda Art Ensemble of Chicago e de pianistas e compositores de jazz como o canadense Paul Bley e o cubano Omar Sosa.
Nos discos autorais que lançou, os três últimos também editados no Brasil. “Pimenta rosa” (2005), “Copacabana” (2009) e “Gingabytes” (2010) , Lica tem trocado figurinhas com alguns dos principais instrumentistas contemporâneos. Gente como os guitarristas/violonistas Romero Lubambo (com quem dividiu, em 2006, o álbum “Live in Europe), Hélio Delmiro, Heitor TP e Vernon Reid (este, do grupo Living Colour); os baixistas Richard Bona, John Patitucci, Celso Pixinga, Marcelo Mariano e Arthur Maia; os bateristas Carlos Bala, Will Calhoum (outro do Living Colour) e Rodney Holmes; os tecladistas Paulo Calasans e José Lourenço; o percussionista Armando Marçal; e o trompetista Jessé Sadoc.
Marcando presença também nas artes plásticas e na literatura, Lica tem a paixão pelo Japão como um dos motores desse trânsito constante entre atividades artísticas. Imersão profunda que a levou a estudar o idioma, que, hoje, fala, lê e escreve. Parte dessa experiência é relatada pela própria no livro “Mais outra” (Giostri Editora, 2014). Um delicioso diário de bordo de uma de suas viagens ao país, entremeado com breves perfis de alguns dos muitos amigos-gurus que encontrou através da vida.
Antônio Carlos Miguel (jornalista especializado em música desde meados dos anos 1970, é membro votante do Grammy Latino e do conselho do Prêmio da Música Brasileira)
Voz e violão: Lica Cecato
Direção Musical, Teclados e Arranjo: Paulo Calasans
Participação especial (violão, gaita e vocal): Alexandre Cecato
DIA: 21 de Abril
Horário: 20:30h
Local: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto
Endereço: Rua Humaitá, 162 – Humaitá RJ
Telefone: (21) 2266-0896
Classificação: livre
Ingressos somente no dia: não haverá venda online
Realização: Amalia Tarallo, Lica Cecato e Prefeitura do Rio de Janeiro
Lica Cecato voz, composição Paulo Calasans arranjo, produção musical, gravação, composição (Até você)
Mariella Nava , Zeca Baleiro e Zélia Duncan participações especiais.
Lica Cecato e Amalia Tarallo produção executiva
Todas as composições e letras de Lica Cecato, com exceção de Até você (música Paulo Calasans e letra Lica Cecato) e Voglio Volere (música Lica Cecato e letra de Lica Cecato, Donatella Castellani, Marino Cancellari)
Renato Bologna mixagem e masterização
François Acquirolli, Roberto Cecato, Tatsuhiko Doi, Reto Güntli, Marcos Hermes, Paulo Jabur, Marco Rodrigues, Ayako Takaishi, Jean Marc Volta, Bob Wolfenson fotografias
Roberto Cecato foto no texto de apresentação
Lica Cecato ilustrações
Gerson Costa design
Antonio Carlos Miguel texto do encarte, release