Santa Catarina está prestes a trilhar um novo caminho em sua história de desenvolvimento. Com uma malha ferroviária limitada e defasada, o estado inicia uma guinada estratégica ao investir em ferrovias como solução para transformar a mobilidade e impulsionar a economia. O projeto de retomada e expansão ferroviária promete não apenas desafogar as rodovias sobrecarregadas, mas também reposicionar a logística catarinense em um patamar mais competitivo e sustentável.
Historicamente dependente do transporte rodoviário, Santa Catarina enfrenta gargalos logísticos severos, sobretudo nos corredores que ligam o interior aos portos. A sobrecarga de caminhões nas estradas, aliada à crescente demanda por exportações e importações, impôs limites à fluidez econômica do estado. Nesse cenário, as ferrovias surgem como alternativa estratégica: um modal mais barato, seguro e ambientalmente eficiente.
O projeto de revitalização e ampliação da malha ferroviária estadual se divide em duas frentes principais: a reativação de trechos antigos e a implantação de novas linhas. Entre as prioridades está a conexão do Oeste catarinense aos portos do Litoral, com destaque para um corredor ferroviário ligando Chapecó a Itajaí. Essa ligação poderá reduzir drasticamente os custos logísticos das indústrias agropecuária e metalmecânica, setores fortes na região.
Outra proposta ambiciosa é a construção de uma nova ferrovia entre Araquari, no Norte, e Dionísio Cerqueira, na fronteira com a Argentina. A chamada “Ferrovia do Frango” visa fortalecer o escoamento da produção avícola catarinense, uma das mais expressivas do país, criando uma rota direta até o porto de São Francisco do Sul. A ideia é transformar o estado em um eixo logístico de integração entre Brasil, Argentina, Paraguai e Chile, ampliando horizontes comerciais para além do mercado interno.
Além dos impactos econômicos, a retomada do transporte ferroviário pode trazer efeitos positivos para o meio ambiente. Com menor emissão de poluentes e maior eficiência energética, as ferrovias colaboram para uma matriz de transporte mais sustentável, alinhada aos compromissos climáticos nacionais e internacionais. Também se espera uma diminuição significativa no número de acidentes rodoviários, resultado da menor circulação de caminhões pesados nas estradas.
O desafio, no entanto, está na viabilização financeira dos projetos. As obras exigem investimentos bilionários e articulações entre governos estadual, federal e iniciativa privada. Parcerias público-privadas são apontadas como caminho viável para tirar os planos do papel, garantindo a atratividade dos projetos e a segurança jurídica dos investidores.
O futuro ferroviário de Santa Catarina ainda está nos trilhos iniciais, mas o apetite por mudança é evidente. Ao voltar seus olhos para os trilhos, o estado sinaliza que entende a urgência de um novo modelo de desenvolvimento, mais conectado, integrado e eficiente. Se os planos forem executados com seriedade e visão de longo prazo, os trens não apenas voltarão a circular pelas paisagens catarinenses — eles carregarão, nos vagões, a promessa de um salto logístico rumo ao futuro.