Da Quinta Avenida ao Planalto: Eduardo Bolsonaro Recruta Advogado de Trump em Batalha Contra Moraes

author
3 minutes, 1 second Read

A disputa entre o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), ganhou contornos internacionais com a entrada em cena de um advogado norte-americano que já defendeu empresas ligadas ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. A estratégia de Eduardo, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, é clara: internacionalizar o embate e buscar respaldo jurídico fora do Brasil para confrontar decisões do Judiciário brasileiro que considera abusivas.

Nos Estados Unidos, Eduardo Bolsonaro ingressou com uma ação na Justiça alegando que teria sido espionado ilegalmente em território norte-americano, a mando de Alexandre de Moraes. O deputado afirma que sua conta no aplicativo Telegram, além de e-mails e mensagens trocadas com aliados, teria sido acessada sem autorização judicial válida nos EUA, violando, segundo ele, leis daquele país. O cerne da argumentação é que, mesmo sendo alvo de investigações no Brasil, haveria limites legais para a atuação extraterritorial de um ministro da Suprema Corte brasileira.

Para dar força à causa, Eduardo contratou um advogado conhecido por atuar em casos complexos ligados ao entorno político e empresarial de Trump. A escolha é estratégica. O profissional, que tem trânsito entre círculos conservadores e experiência em confrontos contra o aparato judicial norte-americano, pode não apenas ampliar o alcance da ação, mas também transformar a disputa jurídica em um embate político de proporções midiáticas — algo que os Bolsonaro sempre souberam manejar com habilidade.

Nos bastidores, aliados de Eduardo comemoram o que chamam de “internacionalização da perseguição”, argumento usado para reforçar a narrativa de que o deputado seria alvo de um suposto cerceamento de liberdades por parte do STF. A ofensiva nos EUA também ocorre em meio ao acirramento da tensão entre bolsonaristas e o Judiciário, em especial após a deflagração de investigações que atingem membros do clã Bolsonaro e aliados próximos, no rastro das apurações sobre tentativas de golpe e ataques às instituições democráticas.

Especialistas avaliam que, embora as chances de Eduardo obter vitória concreta na Justiça americana sejam limitadas — em razão da soberania jurídica brasileira —, o processo pode servir como ferramenta política. Ao levar a disputa para um tribunal estrangeiro, ele busca ampliar o desgaste institucional de Alexandre de Moraes e, ao mesmo tempo, manter acesa a base bolsonarista no exterior, especialmente nos Estados Unidos, onde há um público simpático ao discurso conservador e crítico à atuação do Supremo.

Essa jogada também sinaliza o alinhamento cada vez mais explícito entre a família Bolsonaro e o trumpismo. A aproximação não é apenas estética ou discursiva; ela se materializa em estratégias semelhantes de enfrentamento institucional, mobilização digital e uso da Justiça como arena de guerra política.

O resultado dessa ofensiva ainda é incerto, mas o gesto já cumpre um papel importante: transformar Eduardo Bolsonaro, aos olhos de sua base, em um símbolo da resistência conservadora diante de um suposto ativismo judicial. E se a Justiça americana acolher a ação ao menos para análise preliminar, o simples fato poderá ser capitalizado politicamente no Brasil como uma “vitória moral” diante de um STF que, na visão bolsonarista, extrapolou seus limites.

Enquanto a tensão entre os Poderes segue latente, a ação nos EUA adiciona um novo capítulo a essa novela de confrontos entre Judiciário e bolsonarismo — agora com sotaque americano e ambições geopolíticas.

Similar Posts